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03/02/2016

Em direção à ilha de Yanaba

Continuo aqui a história iniciada ontem, com a nossa passagem pela ilha de Gona Bara Bara. Se você perdeu a primeira parte, é só acessar o post.

O chefe de 94 anos, lúcido, desde que chegamos à ilha, me deu uma atenção especial. É a tradição receber bem o capitão do barco.

Durante a semana, ficávamos horas e horas conversando embaixo de uma frondosa copa de árvore. Muitas vezes, ele pediu para sentarmos no chão, porque o banco em que estava sentado era alto e suas pernas finas e frágeis em balanço no vazio produzia dormência.

Quando cheguei para passar os últimos momentos com ele, era a despedida, ele estava sentado em uma esteira no chão com as pernas cruzadas. Ele não enxerga bem, mas logo sentiu a minha presença e pediu para sentar ao seu lado. Eu falei que teria que ir embora e que iria deixar um grande amigo e saudades.

Eu o abracei e ele chorava copiosamente como uma criança. Minha emoção foi profunda meus olhos se encheram de lágrimas.

A despedida da ilha me emocionou muito. Saímos dia 24/01, às 19 horas, já estava escurecendo e de longe escutávamos os cantos e o brilho da fogueira que iluminava a praia. Buzinávamos e vinha em resposta com um “hurra!” e assim foi até não vermos mais a luz da fogueira.

Saímos no final do dia para navegar rumo à ilha Yanaba.

Na navegada, fizemos três turnos de quatro horas. Tinha iniciado o turno do Wilhelm, Heloisa e Erika às 21 horas. Em dado momento, Heloisa viu um vulto na proa. Era uma piroga das grandes com velas negras cruzando a proa do veleiro Kat, por pouco não atropelamos a embarcação que estava parada por falta de vento e sem nenhuma luz. Nesta região esse é o maior perigo.

Eu queria muito conhecer a ilha Yanaba pelas suas tradições e principalmente pelo que ela representou para nós.

Em 1993, quando navegávamos no mar de coral, entre Vanuatu em direção ao Estreito de Torres, canal de coral entre Austrália e Papua Nova Guine e que divide os oceanos Pacífico e Índico, jogamos no mar uma garrafa com mensagem no dia 15 de agosto de 1993 na latitude 15⁰09’ S e longitude 164⁰ 03’ E.

Ela foi achada por Boitau Jonathan, um jovem de 17 anos na ilha Yanaba na Papua Nova Guiné, no dia 16 de setembro do mesmo ano. A garrafinha navegou 794 milhas em um mês e um dia quando foi achada navegando 25 milhas por dia através da corrente chamada de South Sub Tropical. Ela passou por cima de corais e foi parar na praia a leste da ilha.
No dia 25 de janeiro deste ano chegamos à Ilha Yanaba, depois de 23 anos do episódio. Nós indagávamos: será que o Jonathan está na ilha?

Depois que achou a garrafinha com a mensagem, ele com 17 anos, foi para Alotau, uma pequena cidade no continente para estudar. Foi de lá que enviou uma carta para nós relatando o achado, falando da vila que ele morava e pedindo um relógio.

Logo que ancoramos a uma milha da praia, inúmeras pirogas vieram nos saudar, trazendo muitas frutas e artesanato para negociar. Sentíamos como estivéssemos na época da chegada dos primeiros navegadores europeus a essas ilhas onde eram rodeados de embarcações de nativos.

Perguntei se conheciam o Jonathan. Falei rapidamente da história da garrafa que ele havia encontrado. Em uma das pirogas um dos nativos disse: “Foi o Boitau que achou e ele é meu irmão e também o conselheiro do chefe da ilha”.

Será que vamos encontrar Jonathan e enfim fazer esta ponte de 23 anos no tempo? Fique de olho no Diário de Bordo para acompanhar a conclusão dessa história fascinante.