Puerto Montt, 27 de junho de 1998

O que eu temia aconteceu. Hoje o Brasil jogou contra o Chile.

Desde cedo, os chilenos passavam em frente ao barco com suas bandeiras, cantando Chileno de Corazón. Bem, o jeito foi
enfrentá-los com camisas verde-amarelas. Kat e David tinham a camisa oficial da seleção e formamos uma torcida pequena de 4 pessoas da tripulação. Mas éramos muito animados. Ou escandalosos. Na lanchonete da Marina del Sur, escolhemos uma boa mesa, num lugar estratégico e penduramos nossa bandeira ao lado da bandeira chilena.

Como eles eram maioria, a partir do hino nacional chileno o vozerio em espanhol dominou a pequena sala. Nos 15 primeiros
minutos, o ataque do time chileno foi dono do jogo. E eles nos provocavam:

- Ei! Donde está el time de Brasil? Se defendendo de nosotros! E davam gargalhadas.

Nós ali, olhos grudados na tela, quietos. De repente, GOOOOOOOL! E foi uma explosão de gritos, buzinas e pulos. Kat assustou-se. Não entendia nada (era sua primeira Copa do Mundo) e começou a chorar. Coitada! Eu a levei para dar uma volta e esperar passar o barulho. Os chilenos tapavam os ouvidos e comentavam:

- Puxa, e vocês são só quatro personas!

E assim continuamos, torcendo, envolvidos no jogo. Kat foi pegando o espírito da coisa, tocando buzina e gritando conosco.

No quarto gol do Brasil, os chilenos começaram a ir embora. Um grupo nos chamou:

- Mira! Tem um veleiro com a bandeira brasileira e com as cores do Brasil no costado! (O Aysso, de fato, é pintado com as cores da nossa bandeira – listas verde, amarela e azul.) Parece que está em perigo!

No final do jogo, os chilenos acabaram nos pagando uma rodada de comemoração… Ao regressar ao Aysso, encontramos diversas bandeiras chilenas enfeitando o cockpit. Ainda bem que ganhamos esse jogo!