Durante a segunda volta ao mundo, certo dia, uma movimentação diferente, num pequeno barco próximo do Aysso, chamou minha atenção. Na proa do barco, uma gaivota se debatia, tonta. Acredito que tenha voado contra algum obstáculo… Ela estava ali imóvel, como que pedindo ajuda, as asas esticadas, a cabeça pendendo para um lado. E a ajuda veio.
Três pescadores, que estavam no barco, correram para ela e começaram a examiná-la. Um deles pegou opássaro, colocando-o próximo do peito, como se fosse um bebê. Outro trouxe água em um copo. Mergulhavam um pano na água e o passavam no bico da gaivota.
Fazia muito frio, mas fiquei no convés, olhando para aqueles homens rudes, enrijecidos por uma vida árdua, que os leva a enfrentar todos os dias estas águas geladas e este vento incessante. No entanto, naquele momento, seus olhos eram só ternura para o bichinho que sofria. Preocupados, eles andavam de um lado para outro, cada um com um diagnóstico, os três querendo segurar a gaivota. Discutiam, gesticulavam, quase desesperados.
Vendo aquela cena tão bonita, eu pensava no aquecimento global, na pesca predatória, nas guerras do mundo, as ameaças de loucura e destruição. Que irônico! Será que estes três heróis anônimos sabiam da ameaça que paira sobre todas as gaivotas do mundo?
De repente, como se estivesse já cansada de tanta confusão, a gaivota sacudiu as asas, ensaiou alguns passos, e alçou seu vôo bonito, juntando-se a um bando de amigas que passavam. Os três bateram palmas, felizes.
Naquele momento, desejei que todos os chefes de governo fossem pescadores!