“Era uma casa / Muito engraçada / Não tinha teto / Não tinha nada / Ninguém podia / Entrar nela não / Porque na casa / Não tinha chão / Ninguém podia / Dormir na rede / Porque a casa / Não tinha parede / Ninguém podia / Fazer pipi / Porque penico / Não tinha ali / Mas era feita / Com muito esmero / Na Rua dos Bobos / Número Zero.” (A CASA, Rio de Janeiro, 1970).
Em Punta del Leste, tínhamos um encontro marcado com uma “casa muito engraçada”. Há cerca de 20 minutos do Puerto, fomos conhecer a Casapueblo, que serviu de inspiração a Vinicius de Moraes para escrever o poema/música “A Casa”.
A casa é residência do pintor, ceramista, escultor, muralista, escritor, compositor e empresário uruguaio Carlos Paez Vilaró, que nasceu em 1923, em Montevidéu. Ele faleceu em fevereiro de 2014 aos 90 anos em sua Casapueblo.
Inspirado pelo pássaro João-de-Barro, ele decidiu construir sua Casapueblo. Ele dizia: “Se um pássaro pode construir sua casa, eu também farei a minha”. Assim, em 1958, Carlos começou a erguê-la com as madeiras trazidas pelo mar com a ajuda de pescadores da região. Aos poucos a casa cresceu espontaneamente como uma escultura feita pelas próprias mãos do artista, sem linhas ou ângulos retos, tornando-a mais humana.
A minha impressão foi de que parecia um castelinho de areia que fazemos com as crianças na praia. Com paredes e tetos em curvas, me senti em um labirinto acolhedor onde meus olhos festaram nas esculturas lindas e em seus quadros multicoloridos. Poemas nas paredes compartilham conosco as frases e pensamentos de Vilaró. Minha favorita: “Meus quadros representam a cor da aventura.”
E de repente uma sala de exposição de fotos é invadida por um grupo de brasileiros com crianças super animadas, e juntos cantamos a canção de Vinicius, foi muito legal!
Ao final do dia, Capitão e eu assistimos à “Cerimônia do Sol” na varanda de Casapueblo. Enquanto o Sol se põe no mar, uma gravação faz uma homenagem do pintor ao sol e agradece-lhe pelo espetáculo lindo.