Aqui em Guam, na expedição da segunda volta ao mundo, em 1988, visitamos o Museu de Guerra, uma ala dedicada ao soldado japonês Shoichi Yokoi. Para mim, é a mais incrível história de Guam.
Em 1972, o sargento japonês Shoichi Yokoi foi descoberto nas selvas da ilha de Guam, no Pacífico, 27 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele se tornou um herói nacional por sua dramática história de sobrevivência e sua adesão incondicional ao código do exército imperial japonês de jamais render-se.
Suas primeiras palavras ao chegar a Tóquio foram: “Foi muito constrangedor para mim ter retornado com vida”, frase que foi transmitida pela TV e tornou-se instantaneamente famosa.
O soldado Yokoi se alistou no Exército Imperial Japonês em 1941 e foi enviado à ilha de Guam, então ocupada pelos japoneses. Quando os norte-americanos recuperaram a ilha em 1944, Yokoi embrenhou-se na selva para evitar a rendição às tropas inimigas. Nos primeiros tempos em que se conservou escondido, ele caçava à noite mantendo-se fora das vistas durante o dia e usava as plantas nativas da ilha para fazer roupas, forro para cama e estocagem de alimentos, que ele escondia em uma gruta abandonada que passou a habitar.
Shoichi temia ser morto caso caísse nas mãos dos habitantes de Guam, devido ao tratamento dispensado à população civil da ilha pelos japoneses durante a guerra.
Assim, por 27 anos ele se escondeu, recusando-se a se entregar mesmo após achar folhetos que anunciavam o fim da guerra. Em 1972, Shoichi Yokoi foi descoberto nas matas de Talofofo por dois caçadores locais, Jesus Duenas e Manuel DeGracia, que verificavam suas armadilhas ao longo de um riacho da região. Seu aparecimento quase trinta anos após o fim da Segunda Guerra Mundial transformou Shoichi em uma celebridade e alvo de reportagens em toda a mídia mundial. Após uma turnê tempestuosa por todo seu país, quando despertou a atenção, simpatia e curiosidade de milhões de japoneses, ele se casou e se estabeleceu na área rural de Aichi. Tendo vivido solitário numa caverna por 27 anos, ele se tornou uma figura popular na televisão japonesa e asiática e um adepto da vida austera.
Aos 75 anos de idade, Yokoi foi recebido em audiência pelo Imperador do Japão, Akihito. Yokoi morreu em 1997, aos 82 anos, de ataque cardíaco em Nagoia, sendo enterrado no cemitério da cidade.