Para entrar no paraíso de Amanu, é preciso passar por um passe, uma espécie de rio estreito onde sai a água da lagoa de recifes de corais. O passe tem com uma corrente forte que pode chegar a 10 nós. Com muito cuidado, tivemos que manobrar o barco. Com o coração acelerado, num suspense incrível, entramos na lagoa, ancoramos e finalmente conseguimos respirar direito.
A primeira recompensa foi o visual das praias com os coqueiros sendo penteados pelo vento, e os azuis claro, turquesa verde do mar. A segunda foi a vila com 140 pessoas de uma hospitalidade incrível. Na única rua principal tem o correio um mini mercado, a igreja e a prefeitura. Os únicos veículos são um pequeno caminhão da prefeitura e um trator para obras. Sem hospital ou enfermeiro, os habitantes utilizam a medicina natural de seus antepassados.
Os diversos ilhotes cheios de coqueiros são a base da economia dessas famílias. O coco seco – “copra” – é colhido para a extração de óleo de coco para fins alimentares, cosméticos e medicinais.
Ao desembarcar, fomos recebidos com colares de conchas e a sorridente saudação “Iorana!”.
Na caminhada pela ilha, as crianças nos seguiam curiosas sobre nós e o veleiro Kat. Isolados, sem internet (somente três pessoas têm celular com internet), menos de 10 veleiros por ano visitam a ilha. O navio de abastecimento para do lado de fora da ilha uma vez por mês para trazer suprimentos e recolher a produção de copra.
Esqueci-me do tempo e da idade quando brinquei com as crianças. Fiz uma roda com Heitor e cantamos “Atirei o pau no gato”, uma canção ótima de cantar com elas, que se divertiram repetindo “gato to, não morreu reu reu” e caímos todos as gargalhadas no “miau” final. Tinu, um menino de 7 anos, me emprestou a bicicleta dele e todos riram de me ver equilibrada na bicicletinha.
Depois nos atiramos no mar – eu de roupa como estava – e brincamos juntos. Que delicia escutar as risadas, e ver a inocência dessas crianças.
Durante toda a estadia, a tripulação, liderada por Wilhelm e Charlie, se dedicou aos mergulhos no passe do atol. Conhecido como Drift Dive, eles mergulhavam quando a água do mar entra para a lagoa e com a corrente vinham deslizando/flutuando devagar no meio de um aquário gigante, enquanto ao lado passavam milhares de peixes e vários tipos de tubarões.
No intervalo dos mergulhos, abrimos um salon de coiffure com Heitor, tosando as madeixas de toda a tripulação.
Alguns moradores vieram a bordo e felizes nos contavam que era a primeira vez que visitavam um veleiro.
A lagoa azul piscina era o convite para que fosse praticar meu novo esporte, SUP. Os três dias passaram num piscar de olhos, e tínhamos que partir.
Ao sair, nos preparamos para nova adrenalina, e respiramos aliviados quando Capitão gritou – já estamos de volta ao oceano! Olhei para trás e algumas crianças davam um entusiasmado adeus. Fique imaginando, até quando terão essa pureza de vida?