Se alguém me perguntasse um dia: quais os lugares que você mais sonha em conhecer? Minha lista começaria pelo Farol do Fim do Mundo.

Depois que aprendi a ler, meu autor preferido era Júlio Verne. Foi ele quem abriu as portas de um mundo sem limites onde podia viajar na minha imaginação sem horizontes nem limite de tempo.

Quando li O Farol do Fim do Mundo, uma historia fictícia, de um lugar longínquo, eu pensava que ele só existia no livro.Cresci e descobri que esse lugar existe, mas fica numa ilha de muito difícil acesso, somente por barco, e que para visita-la, envolvia um pedido cheio de burocracia às autoridades da Argentina. Quando começamos a navegar na Expedição Oriente, a ilha dos Estados foi colocada no roteiro, já com a autorização da Marinha.

Desde que saímos de Itajaí , navegamos 4 mil quilômetros por três meses. A velejada de três dias desde Puerto Deseado não me preparou para a emoção de avistar, ao longe, a pequena casinha branca no alto do morro.

A baía de San Juan de Salvamento, com montanhas escarpadas, silenciosa, linda, intocada foi onde ancoramos o veleiro Kat. Nem mesmo os ventos fortes que afunilavam no meio das montanhas e a temperatura beirando 5º C me desanimaram em fazer o trekking por uma trilha escorregadia, até o alto do morro no meio de uma vegetação muito verde. Me deslumbrei ainda mais com a beleza do lugar. Lá do alto, o veleiro parecia de brinquedo ao fundo da baia.

Partes do livro passavam que nem um filme enquanto passava pelo mesmo lugar onde os faroleiros, especialmente Vasquez e os piratas liderados por Krongre, tinham pisado. Olhei ao meu redor procurando a caverna onde se esconderam. Pera aí: me acordei para a realidade.

A história existe somente no livro, mas para mim esse lugar misterioso havia se tornado quase real.
Respirava devagar de tanta emoção ao chegar no farol. Entrei com curiosidade e absorvi cada detalhe dessa construção octagonal, que só existia na minha imaginação e que estava vendo ao vivo e a cores! Um momento muito especial com o qual sonhei durante 50 anos!

Ao anoitecer, a luz de uma lanterna antiga, escrevi no livro de visitas: Se você acredita em seu sonho, faca tudo para realizá-lo. Obrigada Júlio Verne por manter acesa a luz do farol de meus sonhos!