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21/03/2015

Reflexões sobre a Antártica

Ancorados em Porto Lockroy, protegidos dos fortes ventos, abrigada quentinha aqui dentro do veleiro Kat, me sinto como uma astronauta. Em vez de céu, planetas e estrelas, meu universo é a Antártica: um continente que ainda guarda características misteriosas, fascinantes e imprevisíveis.

Eu tinha uma vaga ideia, depois de ler, ver livros, filmes, e de falar com pessoas que já estiveram aqui e me contaram como é a Antártica.

Os fatos que eu sabia eram: que o continente gelado é um deserto de gelo gigante, o mais seco, o mais ventoso, o mais vazio, o mais frio lugar na terra, o mais desabitado, com as condições de tempo terríveis e os mares furiosos. Um lugar que tem noventa por cento do gelo do planeta com três quartos da água doce do mundo.

Cheguei cheia de expectativas: todos os meus mitos foram derrubados: o clima seco amenizou: a temperatura mais fria que pegamos – 11ºC, e eu não senti tanto frio. Me agasalhava bem, aliás, minhas fotos revelam um corpinho de manequim de esquimó ou urso polar, com várias camadas de roupas para me proteger. O tempo e mares horríveis resolveram não aparecer por aqui perto de nós.

E eu vim com meu coração e minha mente abertos para novas experiências, curiosa para descobrir em cada ancoragem, uma paisagem, uma história, uma descoberta e um sentimento.

Depois da ilha vulcânica Deception, e navegando pelas ilhas e canais com altas montanhas cobertas de neve e icebergs gigantes perto de nosso veleiro, perdi o senso de escala e distância. Na Antártica, tudo é uma extensão do branco e mais branco, às vezes branco-azul, onde a paisagem das montanhas nevadas se mesclam com paredões de geleiras e a noção das distâncias e tamanho se tornam ainda mais enganadoras.

Um dia, na baía de Dorian, estava sozinha descendo uma colina, voltando para o barco. Toda a tripulação estava lá no alto, como formiguinhas. O sol brilhava num céu azul claro e um manto de neve cobria a terra de horizonte a horizonte até onde eu conseguia olhar. Parei e fique suspensa num silêncio e num espaço em que nada se movia, nem mesmo a brisa de vento. Lá embaixo tinha uma colônia de pinguins gentoo que eu tinha passado no meu caminho , mas a sua presença era longínqua como pedrinhas negras. O veleiro Kat estava como em um quadro, num mar parado como um espelho e ali perto, um iceberg parecia flutuar no ar.
Na imensidão desse branco, vi como eu era pequena, mas em perfeita harmonia com a natureza. Foi nesse momento que me “senti” na Antártica.