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11/03/2015

A navegada da Passagem do Drake

A Passagem do Drake é a massa de água que separa a América do Sul da Antártica, do Cabo Hornos até as South Shetland Islands, e conecta as águas do Oceano Pacifico do Oeste ao Oceano Atlântico vindo do leste. A passagem tem 800 km (500 milhas) de largura. As águas do Drake são famosas por serem as mais duras do mundo. Em clima ruim, as ondas podem chegar a mais de 10 metros. É aqui que o frio e a umidade subpolar começam a mudar para o congelante e seco clima Antártico. Confira o Diário do Capitão com todos os dados de nossa navegação.

Dia 02 de Março – Primeiro dia de travessia
Saímos às 9h da Caleta Martial, localizada a 12 milhas do Cabo de Hornos, rumo à Península Antártica / Estreito de Nelson. Nossa posição é de 55º49’S e 67º11’’O. O barômetro marca 996mb, o termômetro interno 20ºC e a umidade relativa está em 55º. Pegamos tempo estável com chuva, vento de 8 a 10 nós de oeste. Nossa velocidade média foi de 8, com a vela mestra, mezena e trinqueta (genoa). Dividimos a equipe em dois turnos para a travessia do Drake. No turno A ficaram Nestor, Daniel, Heitor e eu. Às 15h, o vento mudou para nordeste, com 18 nós de velocidade.

Dia 3 de Março – Segundo dia de travessia
Desde o Cabo Hornos, foram 125 milhas navegadas. Ventos de Oeste, variando entre 16 a 29 nós. O vento começou a aumentar com a entrada de nuvens de chuva, similar ao Pirajá (que nós chamamos no Brasil). A velocidade variava entre 6 a 9 nós. Quando o vento aumentou, nós arribamos 5º o rumo para dar altura para a entrada do Estreito de Nelson. Na vela tem um ditado que diz: “dá-me sotavento para termos, lá na frente, barlavento”. O vento variou entre 120 e 150º, o chamado vento de aleta. Pegamos mar calmo, com ondas entre 1 e meio e no máximo 2 metros. Às 12h26, o tempo melhorou, com sol e temperatura externa de 5ºC e um mar calmo. O barômetro não se alterou, 960mb, umidade aumentou para 70%. Em 24 horas navegamos 165 milhas, o veleiro Kat está a 265 Ilhas da entrada no Estreito de Nelson, na South Shetland Island. O vento diminuiu para 12 nós e aumentamos o motor para 1820rpm, consumindo os dois motores 14 litros por hora. Estamos prevendo uma entrada de uma frente de nordeste daqui a dois dias. Temperatura externa de 2ºC.

Dia 4 de Março – Terceiro dia de travessia
5h30. A 146 milhas do destino. Velocidade 8 nós, vento mudou para Oeste, 23 nós. Mar calmo, barômetro estável em 970mb, tempo nublado. Motor no neutro para o funcionamento do leme hidráulico a 790 rpm, com o consumo de 0,8 litros por motor. 14h40. A 75,6 milhas do estreito de Nelson, vento de 16 a 19 nós, velocidade 8,3 nós. Tempo bom, com nuvens. 21h17. Estamos a 32 milhas, o vento mudou de Oeste para Noroeste com intensidade de 13 nós. O veleiro Kat navega com muita estabilidade e pouco se sente dentro do barco, pelas ondas baixas e vento a favor. O tempo estável, chuvisco e temperatura de 0ºC. 23h. Começou a nevar forte, estamos com mezena e trinqueta (genoa), vento de 12 a 15 nós. O mar está desencontrado, com ondulação de oeste e formação de ondas de norte e nordeste.

Dia 5 de Março – Dia da chegada
Às 0h05, passamos por um navio pesqueiro a 5 milhas, pelo MMSI descobrimos o nome da embarcação, sua posição e destino, o navio tem 114 metros e boca de 17 metros e é dedicado a atividade pesqueira, leva o nome de “SODRUZHESTIVA”. Às 3h da manhã, entramos no Estreito de Nelson rumo a Half Moon Island. Chegamos às 9 horas. A travessia do Drake foi de 2 dias e 17 horas. Graças à boa previsão meteorológica, conseguimos atravessar o temido Drake com segurança e sem surpresas. Estamos na Antártica! O último continente que faltava para a Família Schurmann conhecer!