BLOG

23/04/2015

Batalha Naval no Chile – parte 3

Essa é a última parte do Diáro do Capitão. Clique para ler a Parte 1 e a Parte 2.

O Canopus ficou de vigia, pois se esperava a qualquer momento a chegada dos alemães e um eminente ataque do esquadrão germânico.

Von Spee não sabia o que fazer. Se deveria regressar à Alemanha, fazendo alguma guerra contra a navegação aliada, mas sabia que o preço mais provável a pagar seria a destruição, já que os seus navios não eram suficientemente poderosos para enfrentar cruzadores de batalha ou couraçados modernos ou mesmo antigos. Ficou quase um mês nas enseadas do sul da costa chilena antes de dobrar o Cabo Horn. Esperava passar pelo Atlântico numa altura em que os ingleses não os percebessem.

No entanto, cometeu um grande erro, decidiu atacar Port Stanley, precisamente no momento em que estava guarnecido por uma poderosa força britânica.

Os canhões de longo alcance do Canopus foram retirados e instalados em terra. No momento que os alemães estavam chegando à ilha os dois modernos navios Invencible e o Inflexible estavam sendo carregados de carvão e se fossem atacados não poderiam responder um ataque alemão.

Os alemães viram uma fumaça sem perceber o que era, o almirante imaginou que estavam colocando fogo no carvão para que os navios alemães não pudessem depois da uma batalha vencida se abastecer. Puro engano.

O almirante alemão Von Spee viu os mastros dos cruzadores de batalha, mesmo assim, demorou muito tempo na decisão de ordenar sua frota zarpar rumo sul. Se naquele momento decidisse atacar as Falklands teria ganho a batalha. Era início de dezembro de 1914.

Os cruzadores ligeiros britânicos saíram primeiro do porto a caça da frota alemã. Eles a calcularam que com a velocidade superior de seus navios alcançariam o esquadrão alemão cujos navios com baixa velocidade, ainda mais, com craca no fundo do casco. Os navios britânicos logo alcançaram e quando estavam a uma distância de 15.000 metros, iniciou a batalha.

Os britânicos conseguem acertar o primeiro navio. Von Spee ordenou aos seus cruzadores ligeiros que se afastassem do teatro de batalha o mais rapidamente possível, sendo perseguidos pelos cruzadores ligeiros ingleses, o Kent, o Glasgow e o Cornwall.

Aí, a batalha se dividiu e passou a ser o duelo entre os cruzadores de batalha e de cruzadores ligeiros. O Gneisenau, foi atingido causando estragos na parte central do navio, e começou a ser inundado. O Scharnhorst foi atingido na proa e na popa abaixo da linha d’água e foi ao fundo com o almirante Von Spee. O Gneisenau afundando-se e os ingleses ainda recolheram 190 náufragos. Entretanto, o rápido cruzador pesado Kent perseguiu o Nürnberg e vingou o seu irmão Monmouth, afundando o pequeno cruzador alemão.

Por sua vez, o Glasgow e o Cornwall perseguiram o Leipzig que resistiu por um tempo, mas acabou afundado. Foram resgatados marinheiros.

Só o cruzador ligeiro Dresden conseguiu escapar-se daquele massacre de homens e navios.

Depois da vitória inglesa, o almirante Sturdee enviou um telegrama ao oficial alemão sobrevivente mais graduado, o capitão-de-fragata Pochhammer, dizendo o seguinte:
“O comandante-em-chefe felicita-se que a sua vida tenha sido poupada e todos nós admiramos a coragem com que o Gneisenau lutou até ao fim. Desejamos exprimir as nossas mais profundas condolências pela perda do seu almirante e de tantos oficiais e marinheiros. Infelizmente, os nossos dois países estão em guerra. Os oficiais das nossas duas marinhas cumpriram os seus deveres para com os seus países como o fizeram o seu almirante, o seu comandante e os oficiais até ao fim.”

Sturdee recebeu a seguinte resposta: Em nome de todos os nossos oficiais e marinheiros sobreviventes, agradeço a V. Exa pelas suas palavras. Também nós lamentamos, como vocês, esta guerra, pois aprendemos em tempo de paz a conhecer a marinha britânica e os seus oficiais. Estamos agradecidos pelo seu acolhimento.

Ambos os textos revelaram a natureza de uma guerra no puro sentido, uma guerra política. Uma política totalmente desprovida de diferenças ideológicas, raciais, religiosas ou, mesmo, territoriais.

A Primeira Guerra Mundial foi uma loucura de alguns dirigentes políticos em detrimento da morte de milhões de vidas jovens e miséria em centenas de milhões de habitantes de grande parte dos países beligerantes. Mas, foi igualmente uma luta entre estados-nações com uma nova noção de nacionalismo que visava à transformação do estado-nação em império.

O pequeno cruzador Dresden conseguiu escapar-se dos cruzadores de batalha britânicos com toda a força das suas 4 turbinas de 10.800 HP. Fazia 26 nós e era, efetivamente, o único navio da esquadra de Von Spee propulsionado pelas modernas turbinas a vapor. Rumou para o sul e de manteve escondido nos canais patagônicos chilenos por muito tempo.

Nós navegando por onde o Dresden se escondeu, passando pelas ilhas Clarence e Santa Inês.

Os britânicos interceptaram uma comunicação pelo rádio no qual o Dresden combinava um encontro com um navio carvoeiro que iria abastecer. Até então, para acionar as maquinas, cortavam madeira das florestas para as caldeiras.

O comandante alemão levou seu navio para ilha Juan Fernandez e foi descoberto. A frota inglesa se posicionou para o ataque. O comandante alemão comunicou ao comandante inglês que estava em uma ilha chilena, portanto neutra, e que não poderiam atacar.

A resposta foi com o ataque. Imediatamente, o comandante alemão sobe a bandeira branca de rendição. Retirou toda tripulação de bordo e abriu as válvulas e em cinco minutos o Dresden afundou. Ainda hoje no Chile tem descendentes do Dresden.

O episódio similar se passou em 1970. O Chile e Argentina tinham um litígio sobre o domínio das ilhas Picton, Lennox e Nueva situadas no canal de Beagle. Os fundeadouros usados pelos chilenos ao sul da ilha Santa Inês foram os mesmos utilizados pelo Dresden de dezembro de 1914 a março de 1915.

Os navios chilenos e argentinos ficaram em alerta máxima durante varias semanas, cada um estudando a estratégia de como seria realizada a batalha naval. Na terceira semana de dezembro foi o ápice da crise. As duas marinhas com seus navios já navegavam em formação para a guerra em um mar agitado. Dizem que foi um milagre, que o conflito não se iniciou. Foi à intervenção do Papa João Paulo II, que com seu poder conseguiu convencer os dois lados para que lhe escutassem-no e, que seu pedido de suspender as operações de guerra fosse aceito. Depois desse apelo de ultima hora do Papa, iniciou-se as conversações de paz que afinal aconteceu com a assinatura do Tratado de Paz e Amizade no dia 29 de novembro de 1984.

Uma guerra que nenhum dos dois países queria ou buscavam, mas que parecia eminente. O local onde o Dreden ficou escondido ainda hoje são preservados e muitos deles, para poder visita-lo é necessária uma licença especial do governo chileno.