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28/05/2015

Chegar ao porto não é o fim da viagem

Se alguém me perguntasse: “Você viveria dez anos no mar com seus filhos pequenos?”, nem hesitaria em dizer: “Sim!”

1994
Regressamos de nossa primeira volta ao mundo depois de dez anos velejando pelos mares do planeta com nossos filhos Pierre, David e Wilhelm, que cresceram e estudaram a bordo.

Mas voltar e reentrar “numa vida em terra” foi uma adaptação difícil. De um lado, a alegria de rever família e amigos, e, do outro, aceitar a mudança de vida desses dez anos. Nossa bucólica e tranquila Florianópolis havia se tornado uma cidade movimentada, cheia de prédios, e com congestionamento de trânsito!

Foi um momento de reconstruir e organizar nossa vida em terra. Depois de um mês conosco, nossos filhos seguiram seus destinos. Pierre voltou para os Estados Unidos, David para Nova Zelândia e Wilhelm foi participar de campeonatos de windsurf pelo mundo.

Vilfredo e eu procuramos um lugar tranquilo, onde pudéssemos morar no barco. Um local que estivesse abrigado dos ventos se tivéssemos que deixá-lo sozinho para viajar.

Escolhemos a cidade de Porto Belo, a 80km norte de Florianópolis. Abrimos um escritório, de frente para o mar. Uma empresa nos contratou para compartilharmos nossas experiências com seus colaboradores. Depois de realizar inúmeras palestras mundo afora, juntamos nosso know-how: Vilfredo, economista, e o meu de educadora. Elaboramos uma palestra empresarial e começamos uma nova carreira!

Editei meus diários de bordo e comecei a escrever meu primeiro livro: Dez Anos no Mar. Nessa rotina de trabalho, sentados num escritório, me sentia “ancorada” a uma agenda cheia de compromissos.

Uma manhã, da janela do escritório, olhava as baleeiras e os pescadores. Um movimento diferente me chamou atenção: velas brancas de um barco contrastando com o azul do mar e do céu. Ele deslizou com a brisa e suavemente navegou até o fim da baía e foi embora.

Vilfredo e eu vivemos dez anos pelos oceanos e nossa sinergia e paixão pela vida no mar era muito forte. Vi seus olhos acompanhando o veleiro. Ele me olhou e vi refletido em seu olhar o infinito do oceano, a mesma saudade dos lugares por onde navegamos, os amigos que fizemos e as inesquecíveis memórias de nossa vida a bordo.

- Nosso barco está pronto, o que estamos fazendo em terra? – perguntei baixinho…

- Mal acabamos de chegar e uma nova viagem exige um bocado de trabalho pela frente. – Vilfredo retrucou.

- Vamos fugir do trabalho, vamos até a praia agora. – convidei.

A água das ondas nos meus pés me transportou para muito longe do escritório… E de mãos dadas caminhamos e começamos a sonhar em partir novamente.