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05/05/2015

O motim do HMS Wager – Parte 2

Hoje continuamos o relato do Capitão. Acesse a parte 1 aqui.

Em 28 de janeiro de 1742, os amotinados avistaram o sul do Brasil, depois de uma viagem de mais de dois mil quilômetros em um barco aberto mais de 15 semanas. Dos oitenta e um homens que partiram de Wager Island, trinta chegaram ao Rio de Janeiro em uma condição desesperadora. Do Rio, parte da tripulação seguiu até Lisboa, antes de voltar à Inglaterra no ano novo de 1743.

Na chegada, um dos tripulantes deu uma versão dos fatos ocorridos e os líderes dos amotinados, entre eles Bulkley, passaram duas semanas presos. Não tendo dados para julgá-los, acabaram liberados por um juiz até o retorno do comandante chefe do esquadrão Anson ou do capitão David Cheap.

Capitão e seus leais companheiros permaneceram na ilha Wager após a saída do Speedwell. O mau tempo durante outubro e novembro continuou. Em dezembro, no solstício de verão, decidiu-se zarpar com pequenos barcos rumo norte em uma parte do Chile que era habitada. Foram várias tentativas para descobrir o rumo a seguir, mas eles não conseguiram achar a ilha. Assim decidiram voltar para a Ilha Wager. Com o passar do tempo, os sobreviventes ficaram mais frágeis. Um deles chegou a morrer de fome.

Quinze dias depois de voltar à Ilha Wager, capitão Cheap e seus homens foram visitados por um grupo de índios, que ficaram surpresos ao encontrá-los. Os índios concordaram em orientar os náufragos a chegar ao pequeno povoado ao norte, utilizando uma rota pelos canais para evitar a navegação em mar aberto. A jornada durou quatro meses, e dez homens morreram de fome, cansaço e fadiga. Somente cinco tripulantes e o capitão sobreviveram. Eles passaram sete meses em Chaco (hoje Chiloé). Ficaram reféns do chefe local, mas foram autorizados a viver ali com os locais e não foram molestados.

Em dois de janeiro 1743, o grupo saiu em um navio com destino a Valparaiso, no Chile. O capitão e o tripulante Hamilton, que eram oficiais, não foram presos, mas os dois marinheiros, Byron e Campbell, foram confinados em uma única cela infestada de insetos e a comida era de passar fome.

Os moradores visitavam a prisão pagando ao carcereiro para ter o privilégio de olhar os ‘terríveis ingleses’. O publico tinham ouvido falar muito sobre eles. As condições na prisão mudaram, pois os visitantes curiosos davam dinheiro para o carcereiro que distribuía parte aos prisioneiros e também boa comida para eles. O comandante conseguiu tira-los da prisão para seguirem até a capital do Chile, onde as condições eram muito melhores.

Após dois anos, Cheap, Hamilton e Byron receberam passagens em um navio que estava indo para a Espanha em uma nova saga. Passaram por diversos pontos até chegar em Brest, na França, em outubro de 1744. Ficaram lá por seis meses, sem dinheiro, sem um lugar para dormir, sem comida ou roupas até embarcarem, finalmente, para a Inglaterra em um navio holandês.

Em 09 de abril de 1745 eles desembarcaram em Dover, três homens dos vinte que haviam deixado o barco com capitão em 15 de dezembro 1741. A notícia da chegada rapidamente se espalhou. O capitão David foi diretamente para o Almirantado em Londres com sua versão dos fatos. A corte marcial se reuniu rapidamente. Depois de tudo que ele tinha a dizer da sua sobrevivência, Bulkley o chefe dos amotinados estava em perigo de vida, e em risco de execução.

Bulkley teve de enfrentar os homens que ele tinha assumido que estavam mortos na desolada ilha a milhares de quilômetros de distância. Todos os sobreviventes foram obrigados a se apresentar ao Almirantado. Depois de analisar todos os depoimentos pela perda do Wager, nenhum dos sobreviventes foi julgado culpado. O tenente Baynes foi o único advertido por não relatar que o carpinteiro viu terra a oeste ao capitão David. Os amotinados argumentaram que, uma vez que o seu salário parou no dia que a embarcação naufragou, eles não estavam mais sob a lei naval.