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06/01/2016

Os cavaleiros da Távola Redonda

Meus filhos cresceram num barco. Onde não tem uma “sala de estar”. Primeiro porque dentro de um veleiro o espaço é limitado. E, segundo, porque nem dá para imaginar sofás e poltronas, molhados, mofados, cheirando a maresia.

Assim, tudo acontece em volta de uma mesa. Nossas refeições são o momento de confraternização, conversas e boas risadas. Fazemos um buffet do tipo em que cada um se serve, mas todos os pratos, garrafas e copos tem que ficar na mesa, sob constante vigilância: caso uma súbita marola balance o barco, temos que segurar tudo para não sair rolando para o chão.

Não existem escrivaninhas nas cabines, é claro, e quando os meninos estudavam, o material escolar era espalhado na mesa para as pesquisas e as lições. Kat sentava na mesa para estudar, organizar sua caixinha de tesouros e para cuidar da manutenção dos ovos durante as longas travessias. É na mesa que Vilfredo abre os mapas de navegação e, juntos, traçamos nossa rota. Antes da Internet, a mesa era onde as cartas eram escritas e lidas.

Sem sofás ou poltronas, sempre sentamos em frente ou ao lado do outro. E, sem televisão, o foco principal de nossa atenção é o irmão, a irmã, o filho ou o marido, sentados à nossa frente ou ao nosso lado.

Assim, me acostumei com a imagem de minha família reunida em volta de uma mesa. Para tudo. Para rir, para comemorar, para compartilhar boas e más notícias. Neste fim de ano, comemorado tão longe do Brasil, olhei minha família e meus amigos sentados em volta da mesa do veleiro Kat e, mais uma vez, me dei conta de como os hábitos adquiridos no mar nos tornam mais unidos e felizes.

Como na lenda do Rei Arthur, somos os Cavaleiros da Távola Redonda. No nosso caso, uma távola retangular.